Pessoas e Cultura de Cabo Verde
A CULTURA CONTA A HISTÓRIA DO POVO
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A cultura de um povo é muitas coisas.
É a música que se faz, os sabores que se unem, as palavras que ganham nova vida nas mãos dos poetas, o riso nas ruas ou escondido por detrás das portas.
São as mulheres que levam o mercado à cabeça e os homens que trazem o jantar do mar, pés descalços na poeira, é a suavidade da aridez e a vitalidade do oceano.
A cultura de Cabo Verde está na leveza do tempo, presente nas conversas à porta e nas caminhadas pelas aldeias.
A herança mista do povo cabo-verdiano
Os cabo-verdianos são um povo de ascendência mista, filhos de africanos (livres ou escravos) - originários dos povos Fulani, Balante e Mandyako -, portugueses, italianos, franceses e espanhóis.
Também têm raízes em judeus sefarditas, que foram expulsos da Península Ibérica durante a Inquisição, e fizeram parte dos primeiros colonizadores das ilhas.
Este cruzamento de etnias pode ser traduzido em números: 70% de população é mestiça, pouco mais de 25% é de etnia negra, e apenas 1% são caucasianos.
A língua oficial é o português, ensinado nas escolas e falado na administração pública, imprensa e publicações.
A língua nacional, que impera nas ruas, é o crioulo cabo-verdiano, de base lexical portuguesa, nascido nas sanzalas, pouco depois da povoação das ilhas, para facilitar a comunicação entre escravos.
Uma língua crioula nasce em comunidades tão culturalmente distintas, que nenhuma das línguas naturais faladas por cada falante serve o entendimento de todos.
Ainda hoje a força do crioulo é tamanha, que é a segunda língua para milhares de descendentes de cabo-verdianos ao redor do mundo.
Um grande número de cabo-verdianos está espalhado pelo mundo.
É na diáspora - a 11ª ilha -, onde vivem mais cabo-verdianos do que no arquipélago.
A força da emigração é antiga, começou como fuga do tráfico de escravos.
Durante o período do colonialismo português, muitos cabo-verdianos, homens e mulheres, serviram na África Lusófona como funcionários e trabalhadores coloniais.
Embarcaram como marinheiros mercantes, estivadores nos baleeiros ou emigraram para servir como empregadas domésticas na Europa.
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A música como traço umbilical da cultura cabo-verdiana
No final do século XIX um forte movimento artístico começou a crescer, com escritores e poetas notáveis à cabeça.
Entre 1936 e 1960, a revista cultural Claridade foi o centro de um movimento artístico que marcou a rutura com as tradições literárias portuguesas e estabeleceu uma identidade cabo-verdiana.
Baltasar Lopes da Silva e Eugénio Tavares, poetas nacionais, são figuras importantes desse período transformador.
Os escritores que os seguiram deram mais forma à cultura cabo-verdiana, ao incluírem o crioulo nas suas criações.
Depois da língua crioula, a música é a maior e mais rica expressão da cultura cabo-verdiana.
Era a única forma do povo se expressar, legalmente, durante o colonialismo. Por isso, ganhou força e identidade.
Corre na traça das ruas, no sangue das gentes, nos pequenos tudo dos dias.
Ora o murmúrio do embalo de uma morna, depois um funaná acelerado, a Cesária toca ao fundo na rádio, um par de guitarras à desgarrada na praça ou um grupo de batucadeiras a encher o ar de vida e ritmo.
É expressão artística, é resistência, é liberdade e é um profundo orgulho cabo-verdiano, um sentido de comunidade que todos junta numa roda de dança.
Foi este espírito comum que forjou um povo generoso e hospitaleiro.
Partilhar é a forma de vida em Cabo Verde.
E começa no prato.
A grande panela de cachupa será distribuída por quem se senta na mesa de casa, pelos vizinhos, e também por desconhecidos, que são chamados a saborear a iguaria como família.
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O artesanato cabo-verdiano está vivo
No arquipélago, a arte varia de ilha para ilha.
- Na Boa Vista, Sal e Maio, são as peças em cerâmica de terracota.
- Na ilha do Fogo, são as esculturas de lava, o vinho produzido a partir de uvas cultivadas na própria lava, licores, compota de fruta e um queijo de cabra dos deuses.
- Em S. Vicente são produzidos instrumentos de cordas, como guitarras, violões, violinos e violinos, pinturas em tecidos, bijuterias de corais e conchas, objetos de pedra e cerâmicas de vidro.
- Santo Antão é famosa pelos seus licores, o grogue (a aguardente local), o pontche (mistura de grogue e cana-de-açúcar) e a cestaria.
- Na Brava, há rendas e bordados.
- Na ilha de Santiago, brilham as peças em coco, bolsas de sisal, cestaria (balaios), licores. E os tradicionais panos cabo-verdianos, os panu di terra, um tecido centenário, tradicionalmente feito em preto e branco, com padrões geométricos.
Panu ti terra
Antigamente, panu di terra eram usados pelas mulheres, amarrado à cinta, a prender o cabelo, para carregar as crianças ou para dançar o batuque.
Nos últimos anos ganharam nova vida, são agora usados para decoração, roupa, calçado e acessórios.
No princípio, os panos eram confecionados com algodão local, cultivado e trabalhado pelos escravos, hoje em dia, são feitos com linhas importadas do Senegal.
Nos séculos XVI, e até finais do século XIX, estes panos foram uma importante moeda de troca nas transações de escravos, tendo contribuído para a prosperidade do arquipélago.
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Explore cabo verde
Sol e praia, trilhos de montanha, paisagens de uma natureza que tão facilmente brota por todo o lado e uma riqueza de costumes e tradições que não se traduz em preço algum: Cabo Verde é um paraíso que descansa à beira-mar.
Com a morabeza das gentes e a magia que só se encontra em Ilhas de sol e mar, este país-arquipélago é um universo de experiências a descobrir.