Cabo Verde

Morna: descubra a alma musical de Cabo Verde

Cultura5 min leitura

Publicado a 4 novembro 2024

Morna: descubra a alma musical de Cabo Verde

Para além das suas praias e paisagens paradisíacas, Cabo Verde partilha com o mundo um tesouro cultural. A morna cabo-verdiana é uma melodia embriagante que encerra em si a essência do arquipélago. Mais que um género musical, a morna é o reflexo da alma dos cabo-verdianos, repleta de histórias que falam sobre a saudade e o dia a dia das ilhas.

A morna em retrospetiva: das raízes tradicionais ao reconhecimento internacional

A morna é a voz de um povo insular, que através do som do violão ecoa sentimentos profundos de saudade e de nostalgia. Enraizada na alma cabo-verdiana, esta música envolve o coração, transmitindo a “morabeza” – a hospitalidade e o calor característicos dos cabo-verdianos. 

São os ritmos lentos, letras poéticas e uma melodia melancólica que compõem a essência deste género, que é quase um abraço musical, cheio de emoções e de histórias por contar.

morna-cabo-verde-3.jpgNa Ilha do Fogo, casal a dançar ao som de uma morna

Com raízes profundas, a morna nasceu entre as ilhas da Boa Vista e da Brava, há cerca de 200 anos, numa mistura de influências africanas, portuguesas e latino-americanas. Com o tempo, expandiu-se por todo o arquipélago, transformando-se num símbolo da cultura cabo-verdiana. 

Cada ilha acrescentou um toque particular, enriquecendo o género e moldando-o até à morna que conhecemos hoje.

A morna ultrapassou fronteiras, ganhou o mundo e a merecida classificação da UNESCO, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Este reconhecimento internacional colocou Cabo Verde no mapa cultural e honrou um género que não apenas conta histórias, mas também preserva a memória de um povo.

As lendas da morna: compositores e intérpretes que marcaram a história

Maria Barba, a cantadeira pioneira

Natural da Ilha da Boa Vista, Maria Barba é uma figura emblemática na história da morna, reconhecida como sendo uma das pioneiras. 

Barba conseguiu capturar a essência da saudade cabo-verdiana numa época em que a morna ainda estava a consolidar-se como um género próprio.

O seu legado permanece como um símbolo de força e autenticidade cultural, que se revela através da paixão pela morna, influenciando gerações de músicos cabo-verdianos.

morna-cabo-verde-4.jpgHomenagem a Maria Barba, na Povoação Velha, onde nasceu, na Ilha da Boa Vista

Eugénio Tavares, o poeta da morna

Considerado o maior poeta da morna, Eugénio Tavares, nascido na Ilha da Brava, deu voz a sentimentos profundos de amor, saudade e perda e elevou a morna a um patamar literário e cultural que a consolidou como símbolo nacional.

A sua poesia capturou a alma do povo cabo-verdiano, transformando-o numa figura essencial para a compreensão da morna.

As suas letras ainda hoje são cantadas e continuam a transmitir uma grande intensidade emocional.

morna-cabo-verde-5.jpgHomenagem a Eugénio tavares, em Nova Sintra, na Ilha da Brava

B. Leza e as inovações musicais

Natural da Ilha de São Vicente, Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido como B. Leza, trouxe inovação para a morna, adicionando acordes e harmonias complexas que enriqueceram o estilo musical. 

B. Leza é lembrado pela sua ousadia em modernizar o género sem perder a sua essência. Com influências do fado e do samba, ele introduziu o chamado “meio-tom” brasileiro à morna, o que lhe conferiu uma nova textura e profundidade.

A sua abordagem revolucionária ajudou a moldar a evolução da morna, abrindo caminho para novas interpretações.

Cesária Évora, a rainha da morna

Natural da Ilha de São Vicente, Cesária Évora, com a sua voz inconfundível e interpretação inigualável, levou a morna aos palcos internacionais.

A sua interpretação da icónica “Sodade” tornou-se um hino da saudade cabo-verdiana, expressando uma melancolia e uma verdade emocional que a tornaram imortal na música.

A “diva dos pés descalços” não cantava apenas; ela sentia a morna, e, através dela, a música cabo-verdiana encontrou o seu lugar no coração de milhões de pessoas em todo o mundo.

morna-cabo-verde-6.jpgCesária Évora em palco

Fotografia: Nuno Fox / Global Imagens Via: Delas

Mornas emblemáticas que marcaram gerações

Imortalizada por Cesária Évora, “Sodade” é o hino da morna, que dá voz à emoção da saudade. Esta canção capta o sentimento universal da ausência e do desejo de reencontro. Não há coração que permaneça indiferente ao ouvir esta melodia que conquistou o mundo.

Músicas icónicas como “Força di Cretcheu”, “Mi Ma Mi”, “Porton d nos ilha”, “Caminho de Mar”, “Maria Bárba”, “Rocha Scribida”, e tantas outras, abriram a todos uma janela para a alma do arquipélago, transportando-nos para as ruelas, bares e praças de Cabo Verde.

Como sentir a morna em Cabo Verde

Museus e centros de cultura

Os museus dedicados à música em Cabo Verde oferecem uma viagem pela história da morna, com exposições e histórias de compositores e intérpretes.

Estes espaços são um ponto de encontro com a memória e a cultura cabo-verdianas:

  • Casa da Morna Sodade, no Tarrafal, na Ilha de São Nicolau.
  • Casa Museu Eugénio Tavares e Centro de Estudos da Morna, em Nova Sintra, na Ilha da Brava.
  • Núcleo Museológico Cesária Évora, no Mindelo, na Ilha de São Vicente.

morna-cabo-verde-1.jpgNúcleo Museológico Cesária Évora, no Mindelo, na Ilha de São Vicente

Casas de Morna

Em todas as ilhas há locais onde se pode ouvir a morna ao vivo, numa experiência íntima e envolvente. Estas casas de música mantêm viva a tradição, sendo paragens obrigatórias para quem deseja sentir a morna na sua plenitude.

morna-cabo-verde-2.jpgMorna na Ilha do Fogo

Festivais e eventos dedicados à morna

Desde fevereiro de 2018, a morna passou a ser celebrada no dia 3 de dezembro, dia do nascimento do compositor e músico Francisco Xavier Da Cruz – B.Leza. 

O Morna Fest ou o Sodadi Festival d´Morna, realizado anualmente na Ilha de São Nicolau, são exemplos de celebrações locais que reúnem músicos locais e internacionais para homenagear a morna. 

Fora de Cabo Verde, um pouco por todo o mundo, também há festivais que celebram a morna, reforçando o seu impacto global e permitindo que mais pessoas experimentem esta música encantadora.

Morna: mais que música, uma forma de ser

A morna é mais que um estilo musical; é uma manifestação cultural que resume a essência de Cabo Verde. É o símbolo de uma identidade, da resistência e da memória coletiva.

Além da arte, é uma expressão do espírito cabo-verdiano, uma forma de comunicação que aproxima as pessoas e conta a história de um povo resiliente, sempre ligado às suas raízes.

Em Cabo Verde, terá oportunidade de sentir a morna na sua essência mais pura. Seja nos restaurantes e bares com música ao vivo, seja nas casas e centros culturais que preservam a memória daqueles que contribuíram para que a morna chegasse a todo o mundo.

Planeie a sua viagem para Cabo Verde e sinta a morna na sua essência.

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