Envolta no manto azul do Atlântico, a Ilha do Fogo destaca-se em Cabo Verde pelo seu imponente vulcão, o único ativo desde o povoamento do arquipélago. O Pico do Fogo, a 2.829 metros acima do mar, guarda no seu sopé, a povoação de Chã das Caldeiras.
A imponência do vulcão é sentida por toda a ilha
Ir a Chã das Caldeiras é sentir um misto de sensações que refletem os contrastes de uma povoação ferida pela lava, mas que renasce a cada oportunidade. Ali, encontram-se alguns dos terrenos mais férteis em Cabo Verde.
É impossível ficar indiferente à paisagem que tem o vulcão como protagonista
A agricultura, a vinha e a pecuária atraíram as pessoas para o sopé do Pico do Fogo, tendo o povoado fixado-se dentro da caldeira do vulcão. E isto, diz muito sobre a coragem e a determinação das gentes de Chã, como refere o Historiador e Professor Fausto do Rosário.
“Chã das Caldeiras merecia ser elevada a Património da Humanidade. E não falo da caldeira do vulcão do Fogo com 12Km de diâmetro, das plantas endémicas ou da paisagem lunar avistada por quem sobe o Pico do Fogo. Falo da comunidade de Chã, onde encontramos pessoas únicas”, afirma.
Chã das Caldeiras sabe receber e os visitantes sentem de perto a morabeza cabo-verdiana
A resiliência que inspira Chã das Caldeiras
Desde o ano 1500, foram 38 as erupções, 11 delas no interior da caldeira. Em 2014, foi a última vez que o gigante adormecido despertou. E, num serpentear fascinante, mas traiçoeiro, a lava escorreu por Chã das caldeiras e avançou pelas povoações da Portela e da Bangaeira.
Hoje, quem vai à Chã das Caldeiras consegue imaginar que as lavas levaram casas, terrenos de cultivo, alojamentos, restaurantes e hotéis. Mas a comunidade reconstruiu-se, mostrando a fibra de que são feitas as gentes de Chã.
A memória da lava está sempre presente, mas a vida renasce todos os dias
Visitar Chã das Caldeiras é testemunhar a resiliência do povo cabo-verdiano, que também se reflete nas outras ilhas do arquipélago. Uma história feita de superações e de adaptação, sem nunca perder a amabilidade e a generosidade que tão bem se sente através da morabeza.
A Ilha do Fogo que se renova com a reconstrução de Chã
Hoje, Chã das Caldeiras, através da oferta diversificada de alojamentos, recebe viajantes de todo o mundo, atraídos pelo vulcão do Fogo, o cartão de visita da ilha.
Entre trilhos de trekking, que revelam uma paisagem quase lunar de cortar a respiração, desportos de aventura, como escaladas, na bordeira que delimita a povoação, e visitas às grutas e canais de lava, Chã das Caldeiras é um convite à aventura. Uma oportunidade de embarcar numa experiência que transborda autenticidade.
A pé ou de bicicleta, os passeios na Ilha do Fogo são repletos de autenticidade
Com a orientação dos guias locais da Ilha do Fogo, é possível ainda avistar o rápido e ágil voador Gongon que pode ser encontrado durante a sua nidificação, entre setembro e junho, no Parque Natural do Fogo, que abarca três municípios da Ilha do Fogo: Santa Catarina (Chã das Caldeiras), Mosteiros e São Filipe, a capital.
Subir ao Pico do Fogo
O Pico do Fogo é o ponto mais alto do arquipélago e um convite para uma aventura inesquecível que combina o desafio físico com uma beleza natural espetacular.
A subida ao Pico do Fogo é exigente, mas a paisagem recompensa o esforço!
A jornada ao cume do Pico do Fogo é uma experiência de trekking única, sendo já uma competição consolidada, que traz à ilha alguns dos melhores atletas internacionais de trail. A prova nasce da concertação de esforços entre o Instituto de Desporto e da Juventude, a Direção Nacional do Ambiente e o Instituto de Turismo de Cabo Verde.
Alguns dos melhores atletas internacionais participam na subida ao Pico do Fogo
Foto: RTC Radiotelevisão Cabo-verdiana
Se pretende alcançar o topo do Vulcão do Fogo, conte com uma caminhada que varia entre as 4 e as 6 horas, de acordo com a sua condição física.
E se quiser acrescentar um dose de magia à aventura, experimente iniciar a jornada ao amanhecer e testemunhe um verdadeiro espetáculo da natureza: o sol a ascender sobre as nuvens e a banhar a ilha numa luz dourada.
Esta vista, combinada com a liberdade de estar acima do céu, é uma sensação que perdura no tempo.
Se prefere uma versão mais suave, opte pela trilha circular de Chã das Caldeiras, uma alternativa menos exigente, ideal para quem deseja apreciar a beleza da paisagem vulcânica sem a intensa subida ao cume. Este percurso permite explorar a caldeira de uma forma mais próxima e testemunhar como a vida se adapta a um ambiente tão peculiar.
Lembre-se de levar equipamento adequado: botas de trekking robustas e confortáveis, vestuário leve, óculos de sol, boné, protetor solar, água e alguns snacks.
Vinho do Fogo: experimente o sabor de Cabo Verde
Descubra o prazer de desfrutar de um vinho incrível, num lugar mágico, para uma experiência autêntica!
O vinho do Fogo é produzido nas encostas vulcânicas da Ilha do Fogo e destaca-se assim pela sua origem única.
O verde que brota nas encostas contrasta com o castanho da paisagem
As condições excecionais de solo rico em minerais e o microclima ideal conferem a este vinho uma complexidade de sabores e aromas que cativam os paladares mais exigentes.
Ao experimentar este vinho irá descobrir uma parte essencial da cultura e tradição cabo-verdiana. Uma experiência enológica imperdível para quem aprecia sabores autênticos e histórias ricas.
O vinho na Ilha do Fogo tem origem nas vinhas de Chã das Caldeiras, de Achada Grande e São Filipe. Tinto, branco, rosé e o passito, este último um vinho de cor âmbar, proveniente da uva branca de moscatel, que é seca nas pedras lávicas de Chã.
Ao longo dos anos, as vinícolas da Ilha do Fogo têm sido berço de vinhos de grande qualidade, premiados no circuito internacional.
Os vinhos do Fogo são conhecidos internacionalmente
É exemplo disso, o vinho “Chã Branco”, da Adega de Chã, que foi distinguido com medalha de ouro, no concurso internacional “Mondial des Vins Extremes” (Mundial de Vinhos Extremos), em Itália.
E os premiados vinhos branco Santa Luzia e o tinto reserva Pico do Fogo, da Adega Maria Chaves, de Monte Barro.
Por sua vez, a adega/cooperativa Sodade, que reúne vitivinicultores de Achada Grande, Relva e Corvo (Mosteiros), também produz o tinto, branco e rosé, com a marca Sodade.
E porque a morabeza, que faz parte da identidade dos cabo-verdianos, é exímia na Ilha do Fogo, o mais provável é que receba o convite para experimentar o tradicional vinho Manecom, produzido de forma artesanal pelos foguenses. Encorpado e semi-doce, com uma textura que se assemelha ao vinho do porto, vale a pena degustar este néctar.
O Manecom é uma experiência sensorial à parte que deve experimentar
Embarque agora numa jornada sensorial pela Ilha do Fogo e testemunhe a incrível fusão da riqueza destes vinhos na beleza e tradição locais da ilha.
Apresentamos-lhe a seguir um roteiro de três dias que o convida a explorar os sabores únicos desta do Fogo, enquanto descobre alguns dos seus locais mais emblemáticos.
Roteiro sensorial do vinho do Fogo
Dia 1 - Os vinhos de Maria Chaves
Inicie a sua viagem sensorial em São Filipe, uma cidade de charme inigualável, onde poderá visitar as vinhas de Maria Chaves,que conta uma história de tradição e paixão.
Em seguida, envolva-se nos sabores ricos e autênticos numa sessão de degustação exclusiva na Adega Monte Barro.
Quem prova atesta a qualidade e paladar diferenciado
Finalize o dia brindando com uma taça do excepcional vinho tinto Pico do Fogo, perfeitamente harmonizado com a Djagacida, o prato que captura a essência da culinária local.
Experimentar a Djagacida é obrigatório para quem visita a Ilha do Fogo
Dia 2 - Adega de Cova Tina e Casa Ramiro
Percorra a majestosa caldeira de Chã das Caldeiras e deixe-se levar pela aventura de uma caminhada em que se pode tocar o céu ao conquistar o pico do Vulcão do Fogo. Após a conquista, visite as vinhas da Chã, que abraçam a caldeira vulcânica.
Os vinhos do Fogo são únicos devido às condições extremas em que é produzido
E, a seguir, encante-se com os segredos e sabores únicos da adega em Cova Tina. O crepúsculo traz consigo uma experiência ímpar: degustar o sublime Manecom perfeitamente acompanhado por queijos selecionados e embalada pela melodia autêntica da música Cabo-Verdiana na Casa Ramiro.
Aproveite para visitar a Casa Ramiro
Dia 3 - Mosteiros, o berço do Sodade
Parta em direção a Mosteiros e encontre um dos seus segredos, o Vinho Sodade. Deixe-se encantar pelas vinhas que adornam as encostas. Explore a exuberante Floresta de Monte Velha, o pulmão verde da ilha, antes de visitar a Adega Sodade, que une a tradição à inovação.
Imagine-se a saborear o vinho do Fogo com esta paisagem
Brinde à vida com um copo do seu espumante exclusivo e aprecie uma das paisagens mais deslumbrantes de Cabo Verde, numa experiência autêntica que seduz os sentidos e celebra a singularidade da Ilha do Fogo.
Este roteiro sensorial é uma celebração de sabores, cultura e tradição, que promete momentos autênticos na Ilha do Fogo. Um convite irrecusável!
Premiados internacionalmente, os vinhos do Fogo são uma experiência sensorial única
Outras maravilhas da Ilha do Fogo que surpreendem os viajantes
A Ilha do Fogo não para de surpreender e, apesar de ser conhecida pelo seu majestoso vulcão em Chã das Caldeiras, a verdade é que há outras maravilhas que são um deleite para os sentidos.
No município de São Filipe, é fácil encantar-se pela estância balnear de Salinas, uma piscina natural, esculpida pela natureza de forma magistral, onde o mar de azul profundo teima em abraçar a terra. Aqui, as belas grutas e falésias contam histórias milenares, esculpidas pelo tempo e pelo mar. O cenário perfeito para aventuras e descobertas inesquecíveis.
Um momento de relaxamento na estância balnear de Salinas de São Filipe
Nos Mosteiros, há uma excecional produção de café, onde os cultivos desta preciosa planta adornam a encosta norte do vulcão, transformando-a numa colcha de retalhos, em que o verde e o preto são as principais cores.
Aproveite para visitar as plantações de café em Mosteiros
Em Santa Catarina, a tranquilidade de Cova Figueira seduz com a sua serenidade, sendo um convite para uma pausa e meditação, com a beleza infinita do Atlântico como inspiração. Do Miradouro de Maria da Cruz, um caminho serpenteia em direção à Praia Grande, revelando praias de areia vulcânica, verdadeiros santuários que as tartarugas Caretta caretta encontram na Ilha do Fogo. Estas praias, escolhidas pelas tartarugas para a nidificação, recordam a força da natureza que atravessa gerações, com o seu ciclo vital.
A Ilha do Fogo é um convite irrecusável
Com as suas paisagens contrastantes, a sua rica biodiversidade e uma herança cultural única, a Ilha do Fogo é o vulcão que define, mas não limita, o seu skyline. É um convite aberto a todos que pretendem descobrir os segredos naturais de Cabo Verde.